Uruguai estuda congelamento de preços

29/07/13

O governo estuda adotar algumas práticas dos vizinhos argentinos e venezuelanos para reduzir a inflação, que tem ameaçado não apenas o crescimento econômico, mas principalmente a popularidade da gestão da Frente Ampla, no poder desde 2005. O gabinete do atual presidente José Mujica recebeu na semana passada uma série de sugestões de parlamentares próximos ao governo, e a mais radical delas sugere o congelamento de preços nos supermercados.

Outros planos em estudo no Uruguai incluem a criação de um "Frigorífico Nacional"que seria controlado pelo Estado, mas operado por empresários. A ideia seria garantir estoques de carnes em território uruguaio e, assim, mitigar a pressão dos preços em alta no mundo.

O principal líder das propostas é o senador Eduardo Lorier, também secretário-geral do Partido Comunista do Uruguai (PCU) e um dos mais próximos parlamentares da gestão Mujica. Em entrevista ao Estado, Lorier elogiou algumas medidas adotadas pelo governo da vizinha Cristina Kirchner, como uma espécie de tabelamento de preços de produtos considerados essenciais. "A maior parte dos alimentos que estão em alta, como carnes e o trigo, por exemplo, são exportados. Os preços estão altos porque o mercado internacional empurra para cima. Mas como somos produtores de uma série desses itens não podemos sofrer internamente", justificou Lorier.

Reformas e salários. Desde que subiu ao poder, há oito anos, a Frente Ampla - coligação entre partidos de esquerda e centro-esquerda - passou a elevar fortemente os salários, e implementou uma série de reformas que favoreceram sindicatos, além de um programa de gastos públicos que deu à economia uruguaia uma das mais altas taxas de crescimento do PIB nos últimos anos.

No entanto, a inflação iniciou trajetória de alta há dois anos. Nos últimos 12 meses terminados em junho, a inflação acumulou 8,3% - a meta é de 5%.

"Resultado: o governo tem elevado as taxas de juros e cortado gastos."

"Temos de encontrar uma solução para evitar que a inflação faça corroer os salários, e essa solução não pode ser a derrubada economia", disse Lorier, para quem o exemplo argentino é "muito interessante".

O governo argentino da presidente Cristina Kirchner impôs o congelamento de preços no dia 1º de fevereiro aos supermercados e lojas de eletrodomésticos. Na ocasião, a remarcação de preços ficou paralisada para 12.500 produtos por ordem da Casa Rosada até o dia 1º de abril. No meio do caminho, o governo mudou de ideia e decidiu prolongar o congelamento até o dia 31 de maio.

Nesse intervalo, o congelamento da administração Kirchner foi criticado por economistas, líderes da oposição e empresários, que destacaram que o fim da paralisação de preços levaria a uma disparada de remarcações.

Além disso, apesar do controle, os preços nos comércios continuaram subindo. Para complicar o cenário, cresceu o desabastecimento de vários produtos.

O congelamento de preços e a ameaça de aplicar a lei de desabastecimento - lei de 1974 que prevê pesadas multas e até a prisão de comerciantes - desacelerou a escalada da inflação. No entanto, não a deteve, Nos primeiros seis meses deste ano, a inflação argentina acumulada, segundo o Instituto Nacional de .Estatísticas e Censos (Indec), foi de 4,7%. Mas de acordo com as estimativas das principais consultorias, a alta da inflação foi de 10,63%.

O governo chavista aplica há uma década, com diferentes imensidades, o controle de preços de todos os produtos na Venezuela.

No entanto, a inflação no país caribenho não deteve sua escalada, acumulando 25% no primeiro semestre deste ano.

Além da inflação, a política de controle, que contou com fiscalização do Exército e de militantes, provocou escassez de produtos, entre eles, o papel higiênico. Em maio passado, o presidente Nicolas Maduro afirmou que o motivo da falta de papel higiênico era a maior demanda do insumo, causada pelo aumento do consumo de alimentos pelos venezuelanos.

Fonte: O Estado de São Paulo